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Millôr Fernandes aconselhava: “Não se deve ampliar a voz dos imbecis”.  Acrescento, “a não ser que você também seja um imbecil”. Conselho ignorado pela direita brasileira. Quase todas as sacanagens que aparecem para mim nos meios sociais – atores enfiando o dedo no fiofó do colega, performers de rua defecando em jornais, um homem urinando no corpo de outro – vêm da direita. Amigos de esquerda nunca fizeram propaganda dessas coisas. Ao compartilhar esse tipo de coisa nos meios sociais, os amigos de direita transformam uma performance deprimente, até então restrita ao público local, em um espetáculo para milhões, que é exatamente o que os seus protagonistas gostariam que eles fizessem. Estão executando o plano de negócios do concorrente. É muita burrice.

Ao compartilhar esse tipo de coisa nos meios sociais, os amigos de direita transformam uma performance deprimente, até então restrita ao público local, em um espetáculo para milhões.

Para coroar a empreitada, vem o presidente e divulga um vídeo pornográfico através de sua conta no Twitter, que tem 3.610.000 seguidores. Os sites pornográficos agradecem. Depois da twitada presidencial, o site PornHub indicou um aumento de 688% na procura de vídeos com a palavra chave “golden showers”. O dano vai muito além de escandalizar os evangélicos que votaram nele. O tweet de Bolsonaro foi reproduzido no mundo todo, inclusive por publicações de prestígio como o New York Times. O dano para a imagem do Brasil, onde muita gente vive do turismo e do carnaval, é imenso. Passou a impressão de que somos um país de degenerados.

Eu aconselharia a ala não-psiquiátrica do governo a convencer o presidente de que deve haver diferença entre seu comportamento em uma campanha vale-tudo, como, infelizmente, foram as últimas eleições presidenciais e a compostura que se espera do comandante de uma das maiores economias do mundo. Ao pessoal da direita, eu aconselharia deixar de tomar o particular pelo geral. O problema das escolas brasileiras não é a doutrinação marxista. É a falta de professores, de giz, de merenda, de dignidade. O problema mais imediato da nação não é o dedo no cu, é a falta de empenho do governo em negociar as reformas possíveis na previdência e na legislação, e em promover o crescimento econômico. Cobrem isso. Para o resto, as leis vigentes bastam.

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